Memorial da AMP/RS resgata histórias da “Estrada do Inferno” em Vivências no MP
Dando continuidade à série periódica Vivências no MP, o Departamento do Memorial Sérgio da Costa Franco lança o artigo “Barro, lama e o ciborg”, que resgata relatos sobre as dificuldades enfrentadas por promotores de Justiça de Mostardas durante os deslocamentos pela RSC-101, à época conhecida como “Estrada do Inferno”.
A rotina ministerial, sempre gerou episódios curiosos e marcantes, constantemente recordados pelos colegas em momentos de convivência: nas festas institucionais, nos jogos de futebol, nos encontros do Conexão Mulher e dos Núcleos Regionais ou ainda no restaurante do Ministério Público, entre um café e outro.
Com o propósito de preservar essa memória e valorizar a trajetória coletiva da instituição, o Memorial da Associação do Ministério Público Sérgio da Costa Franco passou a ouvir, registrar e compartilhar essas histórias, reunindo depoimentos de promotores que foram protagonistas ou testemunhas desses episódios.
BARRO, LAMA E O CIBORG
Pavimentação e estradas asfálticas modernas são coisas da atualidade. Hoje, pequenas ou grandes distâncias não assustam, porque o cidadão dispõe de transporte rápido e eficaz, avião, ônibus, veículos de boa qualidade, que permitem deslocamentos mais seguros. Raras são as cidades de acesso precário no Rio Grande do Sul.
Mas essa não era a realidade do passado, quando as viagens constituíam uma aventura. Percorrer alguns quilômetros representava o gasto de muitas horas ou até dias de deslocamento, veículos estragados, perda de tempo, além de sofrimento.
Os Promotores de Justiça que atuaram na Comarca de Mostardas sabem o que era a chamada “Estrada do Inferno” (RSC 101). Bastava leve chuva e o trajeto transformava-se num lamaçal, intransitável. O ônibus de linha, que realizava o transporte àquela comarca, recebeu até um apelido carinhoso: CIBORG, em alusão ao valente super-heroi das histórias em quadrinhos.
Na época das chuvas, sabia-se o horário de saída do ônibus, mas jamais o de chegada à cidade de Mostardas.
A Promotora de Justiça IOLANDA DE OLIVEIRA SAMUEL, uma das quatro primeiras mulheres a ingressar no Ministério Público, em 1976, também atuou em Mostardas. Lembrou-se do lamaçal da estrada e da enorme dificuldade de acesso. Recordou-se de um momento complicado, em que ela e o Juiz Eleitoral tiveram de se deslocar à cidade, praticamente à noite, em razão de uma prisão por crime eleitoral (a urna de uma seção não tinha sido entregue, mas levada para casa).
O colega SANDRO DORIVAL MARQUES PIRES, também Promotor de Justiça em Mostardas enfatizou: “quem ganhava com isso era a Senhora Terezinha, dona de um restaurante que ficava no meio do caminho, e também os arrozeiros, que tinham tratores e cobravam caro para rebocar e tirar veículos do atoleiro”.
Promotor de Justiça com atuação em Mostardas, ANTONIO CARLOS PAIVA HORNUNG recordou-se de que, numa oportunidade, o também Promotor de Justiça, MARIO ROMERA deslocou-se à cidade de avião, gentilmente cedido pelo Governo do Estado, sob pena de não poder atender à Promotoria. O próprio HORNUNG, noutra ocasião, precisou pegar carona num trator para chegar à Promotoria. Também os Juízes de Direito e Defensores tinham dificuldades para acessar a cidade, partilhando o transporte “possível” com os agentes do MP.
Apesar dos pesares, das reais dificuldades de acesso à cidade de Mostardas, especialmente no inverno gaúcho, os (as) Promotores (as) de Justiça jamais deixaram de atender à comunidade local e à atividade ministerial. Bravos agentes do Parquet.


